quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

Cidadãos invisíveis.


Ignorados, nas calçadas frias e imundas eles dormem. Gritam pedidos de socorro nada contidos, se debatem, conversam em monólogos com alto tom de voz em línguas por vezes desconhecidas. São loucos, bêbados e infelizes, os coitados. São animais no zoológico, atração de circo, vermes humanos. Escória*, alguns dizem.











*escória - Coisa sem valor; objeto desprezível. Parte mais baixa da sociedade, as pessoas pobres e incultas; plebe, canalha, gentinha, zé-povinho, ralé.

A bebida ou a droga os amortece, alivia um pouco a sua posição social, a sua realidade. A dor, a tristeza, a falta de horizonte, a solidão. Solidão.
São poetas sem registros, contadores de histórias ao léu, críticos ferrenhos sem um quadro no jornal da TV ou uma página na internet. Cabeças pensantes, olhos que vêem, Ouvidos que escutam, bocas que falam e corações que sentem. São totais.

Vivem.Desperdiçam.Sofrem.Morrem.
Quem somos nós para julgá-los? Nós em nosso soberano conforto...Nosso mundinho macio cheirando a amaciante e colônia...Sem saber da real história dessas "criaturas" os julgamos do topo de nosso altar da justiça, moral e bons costumes. Criticamos, esbravejamos, escarramos. Desmerecemos pela aparência, pela "opção", pelo desapego. Vazios somos nós, que continuamos a viver cegos por vendas impostas, de mãos atadas e com grandes bocas falantes de falso moralismo. Cabeças plugadas na mídia inconsequente e cérebro sempre hibernando. Inúteis fantoches porém, bem trajados.